terça-feira, 29 de abril de 2008

Da raíz equivalente ao devir filosófico.

" Tereza tentava ver-se através do corpo. Por isso passava horas à frente do
espelho. [...] Não era a vaidade que a atraía para o espelho, mas o espanto de lá descobrir o seu eu. Esquecia-se de que o que tinha diante dos olhos era o quadro de comando dos mecanismos físicos. Parecia-lhe que o que se lhe revelava sob os traços do rosto era a sua própria alma."

Milan Kundera - A insustentável leveza do ser

O ato de olhar-se no espelho, é uma prática comum para grande parte da população, não é algo perturbador como foi ouvir o rádio pela primeira vez tocando sua música favorita há décadas atrás, ou assistir à televisão quando ela ainda era raridade até mesmo entre os ricos. Mas eu convido você a fazer um exercício de abstração, tente imaginar que um dia as pessoas só viam o que estava à sua frente, não tinham noção de como era o seu próprio rosto, nem sua imagem frontal por completo. Apenas outro observador poderia descrever a imagem alheia. Imagine quando pela primeira vez algum membro da nossa espécie contemplou seu reflexo na água, o que deve ter pensado e sentido? Se ampliarmos isso para o campo da filosofia, acho que essa reflexão significou um avanço tremendo na consciência humana; Começamos a olhar para nós mesmos, a reparar nas mudanças do tempo, criticar e teorizar sobre estética, até criamos estereótipos de velhice e juventude; imagino o quanto foi impressionante e valiosa toda possibilidade que nasceu desse ato tão simples de olhar-se no espelho.


Obra que possui colorido extravagante e perturbador, cubismo surreal que representa uma das fases mais interessantes do pintor. A técnica pictórica e a escolha da cor parecem-me a representação do espanto ao observar-se no espelho. O lado esquerdo do rosto simboliza a normalidade estética e racional; já a outra metade evidencia a besta que carregamos conosco, o nosso lado obscuro que sussurra palavras inquietantes para lembrar-nos do nosso 'eu' animalesco e primitivo. A feiura que escondemos do mundo e de nós mesmos. Essa garota parece estar vendo algo feio e triste no espelho, podemos até imaginar suas reações nos segundos seguintes; Os olhos umedecidos, ombros caídos, vazio existencial e vergonha de si, pois o feio tanto na época que a obra foi pintada, como ainda hoje não é vista com bons olhos, um tabu que os surrealistas e dadaístas tentaram reverter de várias formas.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Sobre a culpa

"Não existe culpa, ninguém é um pecador em potencial, tampouco acredito em salvacionismos, se há felicidade nesse mundo, tem que nascer de nós mesmos, se para ter paz precisamos de guerra, nossa consciência é o grande inimigo."

É normal a sensação de frustração quando alguém de alguma forma fere a nossa dignidade fazendo-nos perder a motivação de sermos otimistas e sorrir. Normal mesmo é sempre atribuir as desgraças do cotidiano a alguém, porque aparentemente acreditamos que nunca erramos, representamos o que há de mais puro e justo na face da Terra. Parece-me um pensamento efetivamente comodista, diria até que essa maneira de viver é fundamental para que continuemos errando em nossas escolhas.

O que mais gostamos numa pessoa? Fácil, nós gostamos das nossas esperanças. Construímos um castelo ideal, símbolo de tudo o que desejamos, colocamos nele nossos amigos, amantes, familiares, e nem por um minuto estamos interessados em saber como o outro realmente é, pois isso não importa, o que importa é o que queremos que seja. Quando alguém nos decepciona, na verdade a culpa é toda nossa, sim, as nossas esperanças falharam, a outra pessoa não tem nada a ver com isso, é um problema pessoal, íntimo. Para ser sincero, sempre gostei de esperar o melhor de qualquer coisa, mesmo com ventos contrários, adorava a possibilidade daquilo que eu desejava ser a mais perfeita forma de prazer e alegria. Eu estava errado, cego das minhas vontades, despreparado para a realidade. O problema desse raciocínio é que dá a entender que somos "obrigados" a aguentar todo tipo de desaforo e violência, não, somos seres de conhecimento, conhecendo nós mesmos, compreendendo nossos atos temos direito de decisão sobre o destino. Não existe culpa, ninguém é um pecador em potencial, tampouco acredito em salvacionismo, se há felicidade neste mundo, tem que nascer de nós mesmos; Se para ter paz precisamos de guerra, nossa consciência é o grande inimigo. Nada precisa pagar pelos nossos problemas, eles são nossos. Na sorte é possível encontrar segurança e compaixão em pessoas especiais que não vão nos Amar por suas próprias idealizações, mas por sermos tremendamente nós mesmos!


Salvador Dalí - Girafa em Chamas (óleo sobre madeira ~1937)

terça-feira, 22 de abril de 2008

A robótica no cotidiano humano

As Ciências Sociais, preocupam-se com a repercussão, influência, existência de um indivíduo inserido na sociedade. O oposto também ocorre, ou seja, a compreensão dos efeitos que a sociedade através de seus fenômenos provocam neste ser humano enquanto sujeito. - Ani Barichello

Eu sou uma pessoa curiosa, pesquiso a fundo tudo o que me interessa, pode estar relacionado a dor ou a felicidade, tenho prazer no choque com a verdade, e com verdade eu me refiro aquilo que está por trás das aparências.

É inegável que no século XXI a nossa civilização avançou em muitos aspectos, sentimos uma liberdade maravilhosa quando falamos abertamente sobre sexo, política, drogas e todo tipo de tabu que em décadas anteriores assombravam a vida pública e privada. A questão que eu acho relevante discutir aqui é se realmente falamos de tudo, e o significado de liberdade. Será que os reconhecidamente alternativos e libertários questionam-se sobre aquilo que não é falado, mas sabe-se que existe no cotidiano na forma de dogma, como um sapato de Magritte ou algum Meme de Richard Dawkins?

É intrigante você fazer algo absurdo, inesperado, perto daqueles "libertos" e segundos depois perceber olhares de reprovação. Não sinto vergonha de mim - obrigado, Nietzsche - apenas fico com nojo dessa geração "B" que não aprecia o bizarro, que ama a realidade e torce o nariz ao dadaísmo. A arte é uma seleção natural, para poucos. Morte à democracia!

No meio daqueles bonecos de preto só uma pessoa compreendeu o non-sense como um tipo de terrorismo poético, a minha namorada. Palavras da Salvação: Tu és belo, por dentro e por fora, tu és belo, eu sou tua, eis um motivo de orgulho!
Não existe liberdade no guarda-roupa da ralé masculina que coloca seu boné pra trás, calça seus tênis e veste azul combinando com a cor da calça. Ó Deus, tende piedade das mulheres que acreditam ser Mulher por usarem vestidos decotados e seus sapatos rosa. Não importa se amanhã cor de Macho for Verde e de Fêmea, Laranja. A questão é romper os padrões, é quebrar o chip ideológico que nos faz olhar para a plaquinha em cima dos banheiros e pensar: "Aqui menino pode entrar".

As Ciências Sociais tem papel muito importante na desmistificação do mundo, numa constante luta contra as idéias ditas naturais que permeiam nosso dia-a-dia. Não se deve angelicar a sociologia, ela também merece críticas e rupturas, quem sabe até a própria destruição. Eterno só existe uma coisa: o Amor que eu tenho por você, dançarina.


René Magritte ~ The son for man, 1926

sexta-feira, 18 de abril de 2008

A compreensão e os próprios grilhões.

"Nós magoamos os outros com nossa própria existência. É desse jeito que vivemos. Precisamos aprender a perdoar. Temos que perceber que a existência deve ser compartilhada. Não estamos aqui só para existir. Mas para encontrar a força para coexistir. Podemos começar de algo minúsculo, Pode até parecer impossível, Mas temos que começar de algum lugar. Esperança, é o nosso legado"

[Casshern]

Depois de re-ler a antologia poética do Mario Quintana e re-ver o filme Casshern do Kazuaki Kiriya eu lembrei das idéias que eu tive quando a muito tempo atrás assisti "A fraternidade é vermelha" que em cada cena o diretor polonês krzysztof kieslowski apresenta as dificuldades de comunicação e compreesão entre as pessoas. Em vários momentos é perceptível que estamos realmente presos em nossos próprios-mundos, em nosso jeito de ser, inflexíveis. Pouco mostramos interesse num esforço para entender as motivações e influências dos atos alheios, buscando assim uma forma de evitar sofrimento pra si e ao próximo.

O que eu noto é que qualquer forma de tentar ser mais flexível em algum assunto é representada como um ataque gravíssimo, uma ofensa, porque - para algumas pessoas - a adaptação simboliza uma perda-radical de identidade. Ora! Mas nós não vivemos sozinhos, pensamos e agimos de forma esteriotipada a todo momento: quando falamos com um senhor idoso não usamos girias semelhantes as que usamos com nossos amigos, tampouco falamos alto e apresadamente. As pessoas são diferentes uma das outras, e cada uma tem um jeito de se expressar e nós não perdemos a nossa sagrada identidade quando agimos com mais tolerância seguindo na estrada da compreensão. Ser do contra, magoar os outros, fazer chorar ao invés de sorrir, isso é fácil, tem aos montes por aí, mas também existem os bondosos-hipócritas, os cristãos-salvacionistas e toda uma gentalha-egoista que usa dos outros para o seu próprio bem-estar. Se Schopenhauer estava certo, como acredito que estava, então eu digo que a compaixão e a vontade-de-amar sejam os valores mais nobres que podemos ter com nossos irmãos.


Trois couleurs: Rouge, Krzysztof Kieslowski - 1994

quinta-feira, 17 de abril de 2008

O cigarro, a cama, e o infinito.

"É preciso abraçar a volúpia, fartar-se de prazeres, e não ter medo da Morte"
Goethe

Alguns assuntos eu não gosto de conversar com qualquer pessoa, eu sei que nem todos estão preparados e acostumados a ouvir ideias que perturbam ao ponto de ficar na cabeça como aquelas músicas chata que ouvimos na rádio uma vez apenas e não esquecemos por um tempão.

Dias atrás eu estava em casa lendo Oscar Wilde, tomando um bom vinho que o Rodrigo (meu irmão) tinha comprado, sequei a garrafa. Já era tarde, talvez quatro e meia da manhã e subitamente fiquei com um tesão absurdo de fumar um cigarro, procurei pela carteira e só encontrei um, um cigarro para a madrugada inteira! Não tinha como sair e comprar mais, estava tudo fechada àquela hora, não havia o que fazer, era aquele e pronto.

Fumar um último cigarro é algo intrigante, prazeroso e doloroso, acredite. Eu sabia que era o último e que eu deveria fumar com calma para aproveitar cada tragada, benditos segundos eternos. Ao mesmo tempo eu fumava com muita intensidade, o que obviamente faria ele terminar mais rápido, algo que eu não queria. Uma coisa era certa: depois de alguns minutos eu não teria mais perto de mim aquela companhia.

Quando eu terminei, comecei a pensar - como se fosse um filme passando pela minha cabeça - sobre várias situações na vida que se eu soubesse que eram as últimas eu teria feito melhor, com mais paixão e mais compreensão, menos covardia e menos impulsividade. Na maiorias das situações não controlamos o destino, tampouco sabemos que aquele era o último beijo e depois seria apenas um permanente Adeus, não fazemos ideia se hoje será a última vez que veremos nossos amigos, tudo pode acontecer, será possível ter consciência disso? Quais as consequências práticas dessa atitude?

Não acho saudável viver um constante Carpe Diem, como se o mundo fosse acabar em alguns segundos e precisássemos fazer tudo na hora, como uma criança chorona que não pode esperar e esperneia para ter suas vontades realizadas não se importando com mais nada, muito arbitrário é o que isso parece ser. A vida não é um incessante 'agora', mas sim sucessões de questionamentos 'porque eu deveria'. O surreal em tudo isso é que enquanto eu fumava aquele último cigarro eu tinha a sensação de que controlava, que manipulava o destino.

Estavamos na minha cama - ela vestida de preto e eu com tons mais claros, ambos com sapatos caros -, sentada no meu colo de frente pra mim fitando-me com aqueles olhos de Mulher fatal, fez carinho em meu rosto e perguntou se eu estava angustiado, se havia algo que eu queria compartilhar. Então contei essa impressão que tive sobre o último cigarro e argumentei sobre as consequências na vida das pessoas que tem consciência da finitude da felicidade e todo prazer. É preciso ter responsabilidade com quem amamos e protegemos, eternizar os belos momentos, fazer o perfeito apresentar-se a nós e não ter medo da Morte.

"E nós somos intensos, não somos, pequeno?"
"Sem dúvida, meu anjo"

Filme: Liegen Lernen ~ Alemanhã, 2003 - Helmut & Britta

quarta-feira, 16 de abril de 2008

A dialética dos meus sonhos.

- I (Em defesa da feiura)

O feio é diferente da bela-contemplação
tristes aqueles que tentam ver:
Beleza na feiura,
como se este fosse o seu propósito!

- II (Da gratidão)

Todo mal não é apenas dor
Existe ironia na maldade
um duplo sentido.
Composto de lágrimas e novas poesias.

- III (Do esquecimento mentiroso)

Entre um cigarro e outro
meus cabelos arrepiados
Cantam:
Esquecemos, é algo que temos de lembrar!

- IV (Da amizade)

Da amizade eu quero tudo!
Quero lágrimas e raiva
tanto quanto um sorriso-salvador
Amigo é um ser-para-guerra
Da amizade eu quero tudo!

Ele tem um sorriso-abraço
que envolve e cativa com segurança
Está presente em minhas explosões interiores.
Sorriso que tenho gosto de abraçar apertado,
sem medo de me decepcionar.

Salvador Dalí - Persistência da Memória, 1931

terça-feira, 15 de abril de 2008

I dont like the drugs but the drugs like me

"You and I are underdosed and we're ready to fall
Raised to be stupid, taught to be nothing at all
I don't like the drugs but the drugs like me
I don't like the drugs, the drugs, the drugs"

Marilyn Manson


Depois que nós três assistimos esse clip do Marilyn Manson, conversamos sobre mídia, informação e os efeitos disso na sociedade:

Diego: Pode-se interpretar o impacto social do fenômeno da TV como um ambiente "onde as pessoas são ensinadas a serem nada" (MANSON, Marilyn), entretanto, essa mídia apresenta várias possibilidades de sonhos, desejos, faz o indivíduo se sentir poderoso, consumidor, cliente, íntimo das ídolos fabricados, em suma, a TV nos mantém informados.

Juliano: Mas é ilusão, porque é alienação. Na verdade é a maneira engenhosa pela qual o neoliberalismo se utiliza das pulsões humanas de uma força subjetiva mas canalizada à imediatidade e à mesquinhez. Criação de necessidades artificiais a partir de uma certa "potencialidade" subjetiva. Trocando em miúdos: manipulação. Veja bem, não estou "entificando" o neoliberalismo, como se fosse algo em si mesmo mas, como um termo formal utilizado para denominar uma rede de relações.

Diego: Outro grande problema da mídia, como estrutura, constitui-se quando ela adquire o poder de autoridade suprema em relação a informação. Consequentemente, dogmatiza a sua crítica como sendo a verdadeira, a única correta. O impacto social dessa postura política é profundamente negativo para o espectador que recebe a informação. Por mais que uma matéria de jornal ou revista seja assinada por um sujeito, a crítica em si é impessoal , generalizadora, portanto, atinge o valor de verdade inquestionável (aos leigos). Contudo, não concordo que a questão é apenas verticalizada. Porque, se fosse, resultaria em um discurso de total manipulação da massa. Até aqui é metade da história, o assunto é complexo, relacional, envolve também o espectador que recebe a informação e que também responsabilidade no processo de análise e reprodução do saber adquirido.

Francisco: O mal não esta apenas na TV. O mal ta no conteúdo que transmite. O que é transmitido na TV cultura também é uma opinião a ser considerada, eles criam uma atmosfera em volta deles como se eles fossem os autores de tudo que falam. A TV não surte nenhum efeito em quem entende como ela funciona ou, que compreende intenção do conteúdo que é apresentado como espetáculo. O problema está na qualidade de recepção da informação por parte dos cidadãos. Como eles aprendem o aprender, o significado existencial, como se relacionam em sociedade, como lidam com a autoridade.

Diego: O sistema - incluindo mídia, cultura, Estado - possui mecanismos de inclusão para a massa aceitar sua doutrina, e aparelhos específicos de repressão àqueles que protestam, que fazem críticas, e lutam para construir alternativas. Contudo, esse mesmo sistema não tem nenhuma arma contra o abandono.

Francisco: Nem precisa ter. Os que buscam algo diferente não possuem poder de influência suficiente. O sistema chega antes, alimentando a fome e o medo da população, dos pais que querem a segurança dos seus filhos e, por segurança, ensinam a respeitar o sistema porque tem receio que as crianças sofram futuramente. Por mais que alguém tente estar à margem do sistema, quem está dentro tende a pensar que os excluidos estão sofrendo, infelizes em sua condição social e política. A grande arma desse monstro é a existência do medo e do símbolo dos abandonados. Os que estão sendo doutrinados precisam de imagens de horror para evitar um devir. Precisam dos mendigos, dos homeless, por fim, dos loucos.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

engenheiro niilista

66.

engenheiro niilista. - O poeta, esse engenheiro niilista. Deus do seu próprio mundo. Ele cria para si fortalezas contra qualquer forma de tédio, mas basta uma palavra e tudo ao seu redor vira cinzas e horror. Não é simples relacionar-se conosco que temos variações tão bruscas de sentimentos e vontades. Francamente este mundo não tem sentido algum, nós reconhecemos isso e essa é a razão pela qual queremos a todo instante dar significado ao que existe e revelar seus mais obscuros porques. É como olhar fixamente para o sol até descobrir a verdade. Nós amamos a verdade, mesmo que ela cegue nossos olhos úmidos de tanta vida. O poeta é aquele que cultiva seus ídolos com carinho e admiração apenas pelo prazer antropofágico de matá-los um por um para mostrar quem realmente está no comando, o já-pensado ou o seu próprio pensamento. Com espada e escudo em mãos vamos passando pelo meio da infantaria inimiga, desviando de flechas flamejantes, pulando por cima de cabeças sem tronco, gritando palavrões! Lá estão eles, malditos semi-deuses, provem um pouco de vida, oh!

Gustav Klimt - O beijo ~ óleo sobre tela, 1907

quarta-feira, 9 de abril de 2008

O começo de Rafael Murrow, Parte II

O Abraço
"Porque sou do tamanho daquilo que vejo, e não do tamanho da minha altura." -- Fernando Pessoa
Lembro-me bem do dia em que fez sentido aquele conceito de super-homem do velho Nietzsche, os sobre-humanos, aqueles que estão acima da massa. Essa espécie de Homem cria seus próprios valores a partir de um sagrado ‘Eu quero!’ e todo aquele sentimento de rebanho, o respeito, o ressentimento e hipocrisia some da alma para sempre e no lugar fica apenas a arte, ou seja, o ser que tem consciência de si, que conhece a si mesmo e exerce no mundo um papel contestador e único, porém há poucos que não seguem o padrão das opiniões da maioria. Chovia muito e eu tinha acabado de chegar em casa todo fodido por ter apanhado daqueles tiras covardes que adoram bater pra matar, só que eles se garantem quando são maioria, nunca se baseiam na justiça dos Homens. Foi uma manifestação contra aquele maldito presidente americano que eu nem gosto de repetir o nome, prefiro chama-lo de porco-capitalista. Mais de cinquenta mil pessoas fecharam as ruas de Copacabana para protestar a chegada daquele infeliz na terra dos colonizados; Eu era um daqueles jovens que tinham como escudo o próprio peito e única arma a verdade esquerdista que até hoje me mantém de alguma forma vivo, gritando sem parar num mundo surdo e cativo. No meio daquela multidão eu senti que alguém me observava, e não foi a primeira vez que tive aquela sensação perturbadora. Não era como uma mulata peituda de boca carnuda te encarando, era assustador e eu sentia um frio súbito acompanhado de um heroísmo fora do normal, àqueles olhos fossem de quem fosse me davam motivação e fôlego para continuar. Quando estava quase adormecendo de tão esgotado que estava, ouvi um barulho altíssimo vindo da porta de entrada da minha casa. Fui me aproximando com calma de onde veio aquele som, pensei que poderia ser um tira ou algum malaco querendo me ferrar. Estava com a minha Glock no burst, queria acertar a testa do filho da puta com estilo, atiro sempre na cabeça. Nem deu tempo de eu apontar e o safado estava atrás de mim me dizendo para ficar calmo e que toda aquela minha vitalidade e fúria teria um propósito maior. Depois de ser jogado na parede ele me fez algumas perguntas:

- Quer que eu te chame pelo seu nome ou prefere esse seu apelido idiota?
- Vai se foder, cara! Quem você pensa que é ?! Acha que pode bancar o batmam e entrar aqui fazendo perguntas?
Nessa hora ele me deu um tiro na minha coxa esquerda, doeu pra cacete!
- Escuta aqui, Rafael, eu venho te observado há muito tempo e você deve ter percebido isso...
- Ah, claro! Você deve ser um homossexual carente. Olha cara, eu respeito, mas não curto isso não!
- Eu gosto do teu senso de humor, garoto, mas na próxima vez que me interromper eu juro que corto a tua garganta com as minhas próprias unhas antes mesmo de você dizer “ai!”, fala quando eu mandar.
- Tem alguma coisa em você, minha criança, que o faz ser diferente dos que você chama de irmãos, os teus companheiros de protestos, ou aqueles punks fedorentos. Você é especial porque dentro desse coração cheio de ódio e vingança, existe uma tristeza bonita e poética, nós também gostamos disso. Alguns dizem que somos apenas durões briguentos, não é verdade, pelo menos não a verdade completa. Curioso um garoto como você gostar tanto de poesia e se dizer disposto a Amar, é algo raro, eu acho inútil, mas admiro sua audácia.
- Bla, bla, bla, cara, disso tudo eu já sei. Pode parar com essa conversa fiada e me fala logo o que você quer, ou...
- Ou o que filhote? Você mal consegue ficar de pé, quem dirá me atingir...
Após esse falatório todo, o Jean, ou melhor, o meu Senhor, numa velocidade incrível veio até mim, abaixou-se e mordeu meu pescoço de uma forma que eu não podia revidar, mas... Eu não queria lutar contra porque de alguma forma eu sabia que poderia confiar naquele Homem que vestia uma camisa vermelha e sobretudo preto de couro que cheirava sangue. Eu não tinha o conhecimento daquilo que estava ocorrendo, depois de algum tempo ele contou-me os detalhes do que tinha realmente acontecido, os motivos e com o que eu estava lidando, senti a força da eterna juventude pulsar em meu peito. Eu tinha aceitado desde o começo. Sim sempre foi a minha resposta, por mais que eu lutasse contra aquela voz rouca me induzia a acreditar e aceitar o meu destino, estava feito, eu era um deles e não poderia voltar atrás.
Pós-Abraço
“Não sou eu que sou o palhaço, mas sim essa sociedade monstruosamente cínica e tão inconscientemente ingênua, que joga o jogo da seriedade para melhor esconder a sua loucura.” - Salvador Dalí

Nesses quase vinte anos que tive o primeiro contato com meu Senhor, passei por fases de altos e baixos, não foi desde o começo que dei orgulho ao Jean. No início eu era uma criança demasiadamente faminta e impulsiva, as coisas que eu queria tinham que ser conquistadas na hora que eu achasse necessário, não era hábito escutar meu Senhor e por isso eu paguei caro, muitas vezes com o próprio sangue. Ainda hoje guardo um pouco desse lado rebelde e às vezes tenho dificuldade para respeitar a hierarquia até mesmo entre meus irmãos, não nos damos muito bem, as ideias são tão diversas ao ponto de poucos se entenderem, consenso? Esqueça. Muitas das coisas que hoje eu sei foram graças a longas conversas na madrugada e treinamento exaustivo. Tinha certeza – mesmo recém chegado - que estavam com a intenção de formar um assassino, ou coisa parecida, muito mais do que um poeta ou alguém erudito o suficiente para convencer a multidão que todos são uns inúteis miseráveis! Curiosamente o meu Senhor não gostava muito de armas de fogo e ensinou-me apenas o básico, disse que se eu quisesse aprender mais, eu teria que fazer sozinho, ele só gostava de fogo se fosse o incêndio da prefeitura ou da igreja mais próxima. Foi muito diferente com a tais armas brancas que ele dizia ser a essência de todo guerreiro: Ao decorrer dos anos, adquiri o conhecimento de lançar facas na testa de qualquer babaca até de olhos fechados! Gosto de usar pistolas apenas quando muito necessário, geralmente ando com facas e uma espada bem escondida nas costas sobre meu longo casaco. Quando passei pela primeira fase do meu treinamento eu aceitei fazer parte de algumas missões com alguns irmãos mais velhos e evoluídos, eu participava simbolicamente, porque eles resolviam tudo, não queriam que o recém chegado estragasse a festa, que na maioria das vezes significava a destruição de outdoors, roubo de documentos federais ou envenenar a água de igrejas, nós realmente tivemos fases de pura maldade, mas tudo era necessário quando se tem uma meta a alcançar e nós não temíamos ninguém, qualquer vampiro da cidade conhecia nosso pequeno grupo (Jean, meu mestre, e os irmãos: Carlos, Ismael e David). Eu ainda sou o motorista, - sou bom nisso, rápido e preciso. Com certeza não aprendi meus truques de direção na auto-escola – meus parceiros têm mais ação do que eu, mas a minha hora vai chegar, Jean tem fé no meu futuro.
Continua...

Surrealismo & Foucault

"A obra de arte surrealista não tem razão nem lógica. À sua maneira, ela aborda o sonho e a mente da criança "
(Giorgio de Chirico)
Se tem algo que faz a vida parecer fútil e desinteressante é a rotina de cada dia, o desencantamento pela novidade, a previsibilidade dos acontecimentos e o conformismo com tudo que se torna velho. Um dos motivos que me faz gostar tanto do surrealismo é porque foi um movimento que incentivou a caçada contra a louca besta dos hábitos. O hábito de ver tudo como imutável. Os artistas desse grupo, conseguiram fazer da sua arte um método de protesto contra tudo aquilo que era encarado como normal. Não faziam diferenciação entre realidade e sonho. A realidade foi gradativamente ridicularizada porque via-se o cotidiano de forma nova, diferente. O surrealismo foi um movimento de crítica política, artística e filosófica. Do início até o meio do século passado. Os integrantes eram profundamente influenciados por Nietzsche, Freud, Marx e pré-socráticos. É interessante encontrar poesia em obras de arte que muitas vezes são absurdas! Fazem-nos ter vergonha de si, questionar nossas certezas, ter raiva da tradição.
Os surrealistas possuíam um f0rte sentimento de grupo - nós resolvíamos os problemas em conjunto. Era isso o que era novo. Naquela altura, reconhecemos que estávamos a adotar uma certa posição, um outro tipo de abordagem intelectual - uma abordagem intelectual colectiva.
(Matta)
Décadas depois, o filósofo francês, Michel Foucault, dirá que o surrealismo, assim como o dadaísmo tive grande contribuição para a quebra de alguns dogmas do seu tempo. Contudo, a coisa mais radical que você pode realizar, a mais revolucionária, é fazer da sua vida uma obra de Arte.

René Magritte - A porta para a Liberdade (óleo sobre tela, 1933)

terça-feira, 8 de abril de 2008

Azeitonas, companheirismo e poesia.


- Amor verde não é apenas ecologia.


Embalados por canções oníricas
contra toda realidade e opressão,
eles abraçavam-se com força libertadora
numa noite fria e cheirosa.

Não é que a pobreza estava assombrando a casa
ou que estivessem com a geladeira vazia.
Acontecia naquele instante uma celebração especial,
sorrisos bobos e juras de amor.

Dois branquelos atentos
olhando fixamente para um olho
o que seria aquilo?
Ambos comiam azeitonas carentes.

sábado, 5 de abril de 2008

Homonagem a Kelly Jones (stereophonics)

- Danielle

De repente, eu te amo
já não te faz mais sorrir
De repente me sinto inútil,
desprezível, sem ação.

As outras coxas não tem
o mesmo cheiro das tuas
Os outros sorrisos não
me fazem rir como o teu.

Entenda, Danielle, que eu
sou só teu, pra sempre eu
Ei de te guardar no coração

Aquele que só tu tens a chave
e após traga-la...não sei não,
Acho que amar demais não tem perdão.

Edvard Munch - O beijo ~ 1897



- Liberdade

Foi encontrada apenas de preto
De um olhar triste e mal humorada
Estava linda do seu jeito,
falava pouco, desprovida de pudor.

Chovia possibilidades de felicidade
Numa tarde de Sol-molhada
A Lua se fazia presente porém calada
despedidas com janela errada.

Não é possível viver assim!
Dormindo acordado,
saudade.
Abraços apertados, ausência.

oh! Queria eu eternizar teu nome
dentre todas as sereias que cantam
Tu és a única que Ulisses daria ouvidos
A estrela que mais brilha no universo vermelho.

2006 / 2007

quinta-feira, 3 de abril de 2008

O começo de Rafael Murrow, parte I


A visão de mundo

"Viver é continuamente afastar de si algo que quer morrer, viver é ser cruel e implacável com tudo o que em nós se torna fraco e velho. Viver é também não ter piedade com os moribundos, miseráveis e idosos? Ser continuamente assassino? No entanto, o velho Moisés declarou: Não matarás!" - Nietzsche


Não é fácil acordar todos os dias com fome e abrir a geladeira e ter o que comer, fumar um cigarro caro, engolindo os problemas com esse whisky de granfino e sair de casa para caminhar e ver aqueles miseráveis pedindo dinheiro pra comprar e consumir a droga mais podre que conseguirem, depois de terem ruminado o lixo que todos nós não queremos mais e cagamos por aí. Quem sou eu? Eu sou a personificação do inconformado que “vive” num misto de melancolia e fúria por ver além das aparências, um mundo que poucos gozam e muitos apodrecem com suas mãos sujas de queixo velho se masturbando com seus pênis confortáveis, talvez seus únicos segundos de liberdade e otimismo. Anseio por uma sociedade radicalmente diferente e usarei de todas as armas, sejam elas punhos, balas ou idéias que a meu ver não resolvem muitas coisas, o bom mesmo é bater e depois perguntar, é assim que eu trato aqueles fascistas imundos ou qualquer homofóbico hipócrita que sente o rabo coçar todo dia e se diz hétero, coitados. A minha arte é lutar, como e quando? Só o meu senhor e destino dirão, poucas coisas cabem a mim escolher. A maioria dos bípedes não gosta muito de mim, eles não me conhecem, melhor assim, eu não gostaria que a plebe conhecesse a minha essência por inteiro, prefiro ser confidente apenas com meus escolhidos, sou bem seletivo. O mundo se divide entre os idiotas e os invejosos: Os idiotas passarão a gostar de mim daqui cinco ou seis anos, os invejosos jamais.

A visão sobre o Amor
“O futuro pertence ainda mais aos corações do que aos espíritos. Amar, é a única coisa que pode ocupar a eternidade. Ao infinito é necessário o inesgotável.”

- Vitor Hugo


Geralmente sou vítima de preconceitos pelo meu porte físico e agressividades demasiadas, acham que não amo, que não sofro dia e noite pela falta dela, quem é ela talvez alguém pergunte-me. Ela já veio, já foi e quem sabe aparecerá no meio de uma rua qualquer chamando-me por um apelido ridículo que apenas os amantes entendem e suportam com louvor. Ser quem eu sou significa ter coragem de admitir o que ou quem Ama e brigar até as últimas conseqüências pelas próprias causas e verdades. Eu vivo da verdade, da minha verdade, foda-se o resto, quem não gostar vai ter que enfrentar alguém que está sempre transbordando de emoção e utopias, isso faz de mim um guerreiro e todo guerreiro anseia por Amor e guerras, paz é para os fracos de espírito, os conformistas que tem medo de amar, de lutar. O Amor é uma síntese composta pelo irracional e esperança, é este sentimento que faz-me levantar o traseiro todo dia e ter cara de pau de dar bom dia para esse bando de escrotos que encontro por essas ruas da vida, malditos zumbis dançando uma música medonha nesse teatro de marionetes controladas pelo nosso bom “Rei”, pelo nosso bom Papa. Sempre achei que se eu tivesse o que amar eu estaria a salvo, o vazio que a falta de desejo, a ausência do ser-amado provoca é um estado de desespero angustiante que eu sei que corro um grave risco de experimentar, eu preciso Amar alguma coisa ou tenho a sensação que estou mergulhando numa piscina sem água com o solo cheio de espinhos mais venenosos que lágrimas de dragão.

Clã BRUJAH!

continua...

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Liberalismo econômico cotidiano

Difícil acreditar que nossas relações com o outros em vez de relações afetivas acabaram tornando-se relações de consumo, porque, como ? Nessa sociedade que glorifica o darwinismo social onde o mais capaz, o mais forte, o mais 'preparado' vence, acabamos transportando isso do mundo do trabalho para o mundo da vida onde temos que estar sempre olhando fixamente para o horizonte dos padrões, nos moldando para conseguir status e aceitação entre aqueles que nos interessam. Veja as academias cada vez mais cheias, ou as clínicas de estética em cada esquina ou até mesmo a venda de revistas de 'saúde' que mostram como a medicina está intimamente ligada a nossa vida com as noções de normalidade, saúde e bem-estar. Foucault que o diga.

Não é difícil encontrar pessoas que querem sair dessa vida e arrumar um parceiro para co-existir em harmonia, cair fora dessa competição que tem como prémio sermos aquilo que não queremos ser. O que queremos ? Queremos companheiros que nos aceitem como somos e que tenham uma visão metafísica de nós mesmos, que nos vejam como ser e não como máquinas de hormônios e bolas de músculo.

Você liga a sua Televisão e ela te vende sonhos de ter, de poder, de conquistar com um simples ato de tirar a camisa, abrir a carteira ou desfilando num conversível. Até quando ? Isso vai durar pra sempre ? Ah! Os psicólogos terão muito trabalho quando essa geração compra-consome-goza chegar aos quarenta e descobrir o que o sonho fez com eles; Tornou-os reprodutores ideológicos com cérebro de ervilha!

Saímos por aí como se fossemos as compras, atrás de padrões que se assemelhem com o actor da novela das oito ou nosso ídolo mais querido, pois ainda chegará o dia do crepúsculo dos ídolos e se descobrirá que não existe nada além de valores em cima desses corpos, nada além de um creme especial de publicidade mal cheirosa.

Gustav Klimt - A filosofia ~ 1907

O quadro 'Filosofia' era uma síntese da visão de mundo e das buscas em matéria de estilo. As personagens à esquerda: o despertar da vida, a fertilidade, o término da vida. À direita: o globo, o mistério do mundo e uma personagem emergindo da luz, o conhecimento. A obra, indo ao encontro de idéias recebidas - por Nietzsche e Schopenhauer - demonstra o triunfo das trevas sobre a luz, do bem sobre o mal numa sociedade decadente e hipócrita que conservava valores puritanos num mundo onde o novo e o absurdo, ansiavam, por emergir. Os seres humanos parecem estar em transe, eles perderam o controle sobre seus atos. Aqui klimt contradiz as concepções científicas reinantes e por conseguinte também a universidade que lhe tinha encomendado este painel decorativo. Efetivamente esta obra foi uma fronta, com razão.

terça-feira, 1 de abril de 2008

is yesterday, tomorrow or today ?

"when the broken hearted people living in the world agree,
there will be an answer, let it be.
For though they may be parted there is still a chance that they will see,
there will be an answer. let it be."
-- Beatles.
É lindo conhecer alguém, não esses relacionamentos modernos que no máximo se sabe o sobrenome do próximo. Lindo é você saber a cor preferida da pessoa, o que a deixa fascinada, o que a faz preferir o silêncio do que palavras inúteis ao tentar explicar a beleza da natureza e do Amor. Mas existe um momento que apenas conhecer esses detalhes do ser amado já não é mais suficiente, vem então a melhor parte da existência, ou seja, quando aprendemos algo novo com nossos irmãos. Tem coisa mais patética do que pessoas que passam na nossa vida e não acrescentam nada ? Existe individuo mais desgraçado do que aquele que vive na má-fé, que não faz da sua vida arte? Eu e meus pequenos prazeres... eu tive sempre vontade de encontrar alguém que me mostrasse mais coisas grandiosas em meros detalhes, os pequenos detalhes, os simbolos que para poucos tem sentido e beleza. Aprendi a sentir prazer em andar no meio da rua; A chuva nunca mais foi a mesma depois daquele dia especial, a chuva agora tem nome e seu antônimo é a solidão. Sou uma pessoa que se sente livre apenas pela manhã, de tarde sou encantado por Monet, de noite eu me redimo em contemplação à Lua. Conhecer alguém é não precisar mais das palavras, é um abraço de quem a gente ama e que não precisa de explicações, esse ato por si só cura qualquer ferida e abre caminhos novos para felicidade. Quando conhecemos alguém é como dois rios que se juntam e depois de misturados jamais serão distintos novamente. O perfume de um fica impregnado no outro, sente-se o coração apertado em noites frias. Nós ousamos atacar a hipocrisia de um mundo que tem medo de Amar.