quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Evolução: Um paradoxo Grego e Moderno.


Na cultura ocidental sucessivos processos revolucionários de idéias e mitos nos conduziram por diversos caminhos desde que o ser humano habita este planeta. Aproximadamente 600 anos A.C uma forma particular de pensamento mudou radicalmente a sociedade. Foi chamada de Filosofia essa arte de pensar o mundo e a si próprio.

Dois filósofos alemães do século XIX e XX, argumentaram contra a ideia de que somos resultados de sucessivas evoluções. Para Nietzsche (1844-1900) e Heidegger (1889-1976) essa decadência começou com os 'socráticos', ou seja, aqueles pensadores contemporâneos a Sócrates e que foram influenciados pelo pensamento dele.

Martin Heidegger defendia que o debate mais importante da filosofia era discutida pelos pré-socráticos. Platão e Aristóteles confundiram o "ser" e o "ente". Na visão deles, era preciso buscar o "ser" do "ente". Isto faz com que o ser volte a ser um ente, o ente essencial, mas apenas um ente. O "ser" está além de qualquer ente, esta é a ênfase de Heidegger. Portanto, ele busca o sentido e a verdade do ser, mas não ousa defini-lo. Só os entes podem ser definidos, mas não o Ser. Os pré-socráticos sabiam disso.

Nietzsche também – em alguns aspectos – não concordava com os socráticos. Antes deles a tragédia grega lidava bem com a dicotomia Apólo (deus da estética, da beleza, da racionalidade) e Dionísio (deus da insânia, da embriaguez). Porém, o que os socráticos fizeram foi esquecer Dionísio e dar ênfase a Ap[olo; postura essa que se expandiu e teve consequências como a criação de uma forma científica de pensar: racionalista, que está intimamente ligada ao desenvolvimento da modernidade e da técnica.

Nietzsche e Heidegger tinham datado o pecado original da história da involução em Platão e Sócrates porém; Adorno e Horkheimer recuam mais um pouco. Para eles, a decadência começa em Homero quando Ulysses é amarrado ao mastro do navio para poder resistir à sedução do canto das sereias. O "si mesmo" que aqui quer se afirmar tem de se endurecer, prender, tem de exercer violência sobre si e acima de tudo: não deve ceder à música. Sem música a vida seria um erro, dizia Nietzsche; Adorno e Horkheimer demonstraram como a vida caiu em erro no momento em que se decidiu pela auto-afirmação, pela repressão e contra a música do mundo.

Será que nos falta o ímpeto para nos entregarmos a essa música do mundo? Destampar nossos ouvidos e nos desamarrarmos dessas cordas. Assim deveria ter feito Ulysses?



Herbert James Draper - Ulysses e as sereias (1909)

Um comentário:

Deborah O'Lins de Barros disse...

Veja só que ironia:
o único alemão dos filósofos que li foi, com nome não menos complicado de soletrar, Schoppenhauer, o rabujento :-)
mas gostei do texto. só queria ter mais leitura para fazer um comentário melhor, mas fazer o que? um dia eu chego lá :-)
abraço,
Deborah