"A desordem é o melhor servidor da ordem estabelecida"
Há poucos minutos, ouvi no radio o locutor informar o quanto a população da nossa região está sendo solidária com os desabrigados, os que perderam tudo e aqueles que não tinham nada. Além disso, caminhões com mantimentos de todo tipo não param de chegar vindos de outros estados próximos ao nosso. Bonito. Não é comovente como as pessoas são doces e prestativas quando se deparam com o drama alheio maior que o próprio? Agora todos se amam independente de crença, raça, ou orientação sexual. É o natal antecipado na terra da magia, no vale do Itajaí. Eu me pergunto porque, geralmente, em épocas de tragédia a população expressa esse sentimento de coletividade, misto de compaixão com dever público. Principais virtudes de um cidadão ideal.
A miséria e todo tipo de humilhação que muitas pessoas desabrigadas estão passando agora não é novidade. A chuva, e o que ela trouxe consigo, foi uma forma de evidenciar a situação caótica que grande parte da população brasileira enfrenta diariamente. Nos acostumamos com a pobreza dos outros, banalizamos o mal, traduzimos todo tipo de enfermidade social como 'gente vagabunda', 'bando de acomodados', 'marginais', e daí por diante. A TV transmitiu que um grupo de empresários reuniu-se pra criar um fundo que arrecadou cem mil reais para socorrer os necessitados. O idealizador desse ato de bondade afirmou que "é muito pouco para nós, porém, temos a certeza que essa parte dos nossos lucros que estamos doando ajudará muito essas pessoas que nem conhecemos".
Ontem fui à universidade e vi uma senhora trazer alguns pacotes de arroz e farinha. Ela entregou para um dos voluntário que estava encarregado de receber e guardar esses mantimentos. De repente, o meu sorriso - e o dele - tiveram o mesmo fim inesperado. Ela perguntou ao rapaz aonde deveria assinar seu nome. Assinar o que? Perguntou ele, confuso. "Para saberem que eu doei". Bondade, egoísmo, tragédia, reconhecimento, sensacionalismo. Humano demasiado humano.