quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Jacques Derrida / Ghost Dance (1983)

Marianne: Gostaria de lhe fazer uma pergunta. Você acredita em fantasmas?

Derrida: Essa é uma pergunta difícil. Você está perguntando se um fantasma acredita em fantasmas. Aqui o fantasma sou eu. Desde que fui convidado para interpretar eu mesmo, em um filme que é mais ou menos improvisado, senti como se estivesse deixando um fantasma falar por mim. Curiosamente, em vez de interpretar eu mesmo, sem saber disso, permito que um fantasma desafogue minhas palavras e interprete meu papel. O que é ainda mais divertido!

O cinema é a arte da assombração, uma batalha de fantasmas. É isso que penso sobre cinema, quando ele não é tedioso. A arte de trazer os fantasmas de volta, é isso que estamos fazendo agora. Por conseguinte, se eu sou um fantasma, mas acredito que estou falando através da minha própria voz, é precisamente porque creio que é a minha própria voz que deixo ser controlada por outra. Não é uma voz qualquer mas, as dos meus próprios fantasmas.

Então, fantasmas existem e, são essas assombrações que irão lhe responder, talvez já tenham respondido. Tudo isso, me parece ter relação com uma troca entre a arte do cinema, na sua originalidade, sem intervenções e, um aspecto da psicanálise. Cinema somado a psicanálise representa a ciência dos fantasmas. Freud, lidou com essas assombrações em toda sua vida.


(Toca o telefone)


Derrida: Agora o telefone é o fantasma!
Alô?
Sim, sim...
Haverá um pequeno seminário amanhã de tarde.
É um evento fechado, mas você pode ir, se quiser (...)
Às 16:50.
E haverá outro na quarta-feira, às 17 horas.
Sim, sim...
Ficarei muito contente em encontrá-lo.
Até logo.


Derrida: Essa era a voz de um fantasma que não conhecia. Alguém que acabou de chegar dos Estados Unidos, e que conhece um amigo meu, etc, etc. Bem, o que Kafka diz sobre correspondâncias, cartas, romances escritos atráves desses documentos, também se aplica a conversas por telefone.

Acredito que o desenvolmento da telecnologia moderna, sobretudo de telecomunicação, em vez de diminuir o reino dos fantasmas - como acontece com qualquer pensamento científico ou técnico - está deixando pra trás a Era dos fantasmas, como uma parte da Idade Média, com sua tecnologia um tanto primitiva.

Acredito que os fantasmas são parte do futuro e que a moderna tecnologia de imagens do cinema e da telecomunicação, aumentam o poder dessas assombrações e a capacidade de nos perturbarem.

Efetivamente, desejei persuadir o aparecimento desses fantasmas e aceitei fazer parte desse filme. Isso poderia, talvez, oferecer a nós dois, a chance de evocar fantasmas. O fantasma de Marx, Freud, Kafka, o fantasma do americano que telefonou, até mesmo o seu! Eu lhe conheci nessa manhã mas, você já está permeada por diversos fantasmas. Se acredito em fantasmas ou não, eu digo: Longa vida aos fantasmas! E você, acredita em fantasmas?

Marianne: Sim, certamente. Absolutamente.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Metafísica II

Urgência de auto-estima: Essa urgência de auto-estima é uma invenção excitante para quem tem um grave defeito no pescoço. Parece que a cabeça apenas movimenta-se verticalmente. Futuro & umbigo. Repito, futuro & umbigo. As outras pessoas são marionetes sem sentimentos, prontas para satisfazer os desejos dessa gente tão cheia de si. Entre tantos outros, talvez este seja o conforto socioexistencial mais eficaz.

De Chirico - The Disturbing Muses (1925)