sábado, 30 de outubro de 2010

O sentido ontológico da Poesia

Andava até minha casa, distraído, quando, de repente, dois ou três versos fizeram sentido pra mim que logo se juntaram a outros seis ou sete e então ali apresentava-se uma poesia do começo ao fim. Definida. Eu tinha papel e caneta, mas não quis parar no meio do caminho, me apressei, mas comigo, ela, a poesia, também jogava com sua mobilidade e a cada passo dado por mim ela se afastava.

Não era apenas uma questão de me perguntar constantemente pelas principais palavras do poema, o que talvez pudesse me manter seguro contra o esquecimento; não, o problema é que o sentido da poesia lentamente me abandonava, impiedosamente.

Se o novo está na tradição, então o ser da poesia que é um existencial e por ser um existencial possui mobilidade que esbarrou no meu ser e foi capturada. Por algum tempo a poesia ofereceu resistência até que eu pudesse revelar o poema pela intermediação da linguagem.

Isso provoca uma reflexão básica: a poesia é crianção ou revelação? Se for considerado que o poético é-mundo, eu enquanto ser-no-mundo tenho capacidade de apreender a poesia, então ela se manifesta como revelação. O mais importante, acredito, é compreender que o sentido do ser da poesia pode me atravessar de repente, sem qualquer aviso prévio e pulsar na morada da razão num jogo entre as limitações da racionalidade contidas na minha luta particular em busca de objetivação, e o esquecimento, também encarado como perda de sentido.

Paul Delvaux - Alvorada sobre a cidade (1940)

2 comentários:

Anônimo disse...

A arte do esquecimento.
No meu caso, papel e caneta nem sempre estão por perto...

Roseane disse...

Adorei o blog, porque o poético me interessa muito, por trabalhar em um Projeto de Pequisa justamente sobre esse assunto. Poesia, segundo alguns estudos, é "um ser que nos faz" e deriva do termo grego pöien. Acredito que a poesia possui uma relação indissociável do ato de fazer e da revelação.

Abs

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