quinta-feira, 10 de julho de 2008

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"qual o emblema da Liberdade alcançada?
não mais envergonhar-se de si mesmo."
(Nietzsche)


... sem introdução, meio e fim. não existe lógica na atitude de quem pretende bater na mão que pode acabar com a própria fome. todos que fazem parte do selvagerismo não usam letra maiúscula no começo de frases, eles não aceitam a diagonal, tampouco qualquer tipo de verticalização da sua plebe. a arte selvagem é indomável por natureza, odeia os civilizados de colarinho. o "comportamento" é rebelde e pretensioso. não há discurso, apenas atitudes selvagens, os que fazem parte do movimento não aceitam regras por obrigação, eles próprios são as regras e ir contra elas é o mesmo que não ser selvagem. aboliu-se o respeito a qualquer tipo de senhor, maltratamos os deuses. apenas cremos num mito: a Liberdade. moramos em casas sem fechaduras, qualquer um pode entrar, minha cabeça é o meu lar, e aqui não existe riqueza a roubar, somos todos pobres perante a dignidade humana. o sujeito está enterrado, o estado ainda brinca com seus botões, minha igreja está em chamas, o bom deus fugiu, minha família nuclear explodiu, um desastre cotidiano. ah, claro que sim! os selvagens não tem orientação sexual, eles nem opção tem, a razão lhes abandonou-os, só obedecem o seu próprio juízo, sempre mal intencionado. a selvageria nasceu quando o homem viu uma criança chorar e depois de humilhá-la com as palavras e olhares mais hostis, acertou três socos na barriga da inocente criatura e saiu andando calmamente, rindo, dançando feito macaco em rave. não há justiça, nem compaixão, o umbigo cresce cada dia mais e consequentemente torna-se mais evidente. a morte foi desvelada, percebam: os selvagens já nascem mortos. a ontologia da morte é simples. você apenas precisa morrer cada dia sem pensar em ter que viver novamente. pela primeira vez morrer transou com o ser, desse ato nasceram muitos filhos sem pátria. nós...

3 comentários:

Ani Cristina Bariquello disse...

“selvageria nasceu quando o homem viu uma criança chorar e depois de humilhá-la com as palavras e olhares mais hostis, acertou três socos na barriga da inocente criatura e saiu andando calmamente, rindo, dançando feito macaco em rave”.
seus aforismos por mais abstratos e introspectivos que sejam possuem sempre metáforas interessantes. Precisei lê-lo pelo menos umas 3 ou 4 vezes para abstrair 50% ou menos do que você quis dizer, possivelmente mais que isso não seria possível, sempre descarregamos sentimento nos que escrevemos, cada palavra de um escritor é uma gota de seu próprio sangue, você é também seus escritos. daí pode-se concluir o quão interessante, reflexivo e caótico você é, ou seja: lindo. companheiro selvagem, lhe digo, selvagens são sinceros sobre tudo consigo mesmo, atribuem valor através de critérios próprios, daí o desprezo pela materialidade mundana, daí o desprezo pelas regras alheias impostas, daí as indefinições e daí o abandono. tenho convicção que somos mais violentos ainda quando enjaulados, e se condenam nossos atos, cheios de pavor e ojeriza quando nos percebem tendo atitudes estremas, então porque foi que criaram está grande selva?
vivemos para morrer e por isso nascemos mortos, morremos a cada dia, para enfim, um dia morrermos plenamente, por isso a existência é triste.
p.s.: senti falta de qualquer referência sobre a relação dos selvagens entre si, ou seriam todos selvagens?
perturbou-me este texto.

Anônimo disse...

"não há discurso, apenas atitudes selvagens, os que fazem parte do movimento não aceitam regras por obrigação, eles próprios são as regras e ir contra elas é o mesmo que não ser selvagem."

intrigante não!? para alguns...pra mim parece lógico, não devemos justificar atos antes de tê-los feito, aliás não devemos nos justificar(essa é uma das minhas regras).
regras, regras...quem as cumpre?? na verdade creio que todos os que "absorvem" as regras alheias, sempre as reformulam diacordo com a sua própria visão de delito. e recordando um chat que tivemos uma vez onde a questão era: o que é liberdade para você?
me recordo de que respondi sobre ter regras e tals, disse que deveriamos ter identidade e se não pudessemos execer-lá em sua plenitude em função dos "civilizados de colarinho" como tu diz, que encontrassemos nosso ponto de acordo com aquilo que nos é imposto(creio que não tenha como ser 100% do contra). é inimigo do sistema, de verás é mais fácil derrota-lo estando dentro e sendo visto como um deles, do que estando fora e sendo visto como contestador... mesmo selvagem precisamos ser espertos, um selvagem com faro não só instinto.

Anônimo disse...

Muito bom, bem escrito.
Retrata verdadeiramente as atitudes
selvagens.