quarta-feira, 19 de março de 2008

Metafísica I

(Ou como o poeta chegou ao exílio)

Eu,
que outrora gozava da juventude
hoje sou velho.
Queimei meus dedos
e nada senti.
Lutador exausto
sorrindo para provocar novas pancadas.
O cigarro acabou
minha sombra já não me segue
meu cheiro é imperceptível.
Eu,
que fui sol e esperança
profeta da alegria onírica
percebo agora o quanto estou perdido.

Você consegue me ouvir?
Você consegue...
Quem está aí?

Eu,
que morro em um mundo onde
é cada um por si.
Todos os meus amigos
tiveram as piores doenças
Até tiros levaram!
Não morrem.
Nada disso eu sofri
entretanto,
Amei como ninguém amou.
De cabeça erguida
mãos atadas
Olho para o céu, procuro por você...
Não morra!

[Diego Augusto Mélo]

Yves Tunguy ~ Dia de Lentidão, óleo sobre tela - 1937

2 comentários:

Bah Mesquita disse...

É... quando li, também dei um pequeno sorriso...

Mas foi um sorriso de compreensão. Um sorriso q dizia silenciosamente "sei como você se sente".

Beijos, querido Sonho =*

Anônimo disse...

Morte?
...é só o começo.