segunda-feira, 14 de julho de 2008

Die Fälscher (um filme de Stefan Ruzowitzky, 2007)

Não gosto de colocar a culpa em alguém por causa dos males que atormentam minha vida e a sociedade onde eu vivo. Se um dia a minha esposa trair minha confiança eu terei que assumir parte da culpa, pois decidi por livre espontânea vontade casar-me com ela. Se alguém apressado furar a fila que estou enfrentando horas em pé - mesmo que tenha um motivo justificável - eu tenho direito de ficar irritado, não somente com a pessoa, mas comigo também, porque contribui para a perpetuação do jeitinho brasileiro. E como diria o cultuado capitão Nascimento: "você financia essa merda". Ah, isso é verdade, você, ele, eu, todos temos parcela de contribuição para a atual condição socio-política.

O tema responsabilidade já foi tratado neste blog em outros textos, mas essa pequena introdução é necessária para fundamentar a razão de eu ter gostado do filme alemão Die Fälscher (O falsário).

Adolf Burger, o personagem mais interessante do filme, de várias formas tenta boicotar o seu trabalho e o de seus colegas, com o objetivo de prejudicar o sucesso nazista na guerra contra os outros países. Salomon Sorowitschi, chefe do setor de falsificação de dinheiro, critica a ação de Burguer, que questiona qual a utilidade de ajudar os alemães; Sorowitsch responde que se caso não fizer o trabalho sujo pode certamente morrer. Seu colega irrita-se e brilhantemente manifesta em poucas palavras a grande moral do filme: Você acha a sua "vida" tão especial assim? Acha que sua existência no meio de toda essa podridão é mais importante do que quebrar a engrenagem desse sistema? Sorowitsch quer viver, nem que para isso precise colaborar com o regime nazista que o insulta de todas as formas e prolifera a violência contra a diversidade cultural e artística por onde passa.

É uma questão delicada. A nossa vida é a única coisa que nós realmente temos. Eu e a Aninha, minha namorada, já discutimos sobre isso várias vezes. Por um lado sabemos que não somos as últimas bolachas do pacote, claro que outras pessoas virão depois de nós, nossos filhos, as próximas gerações. Será que os que pensam como Salomon estão sendo extremamente egoístas? Será que os defensores de Burguer podem beirar ao fanatismo por uma causa, de forma tão radical quanto os inimigos que combatem?

Evidentemente temos dois pólos: O conservador que é consciente da brevidade existencial, que fará de tudo para manter-se vivo. E também notamos essa curiosa espécie de homem revoltado que prefere abdicar da própria vida em nome de valores que possam ajudar aqueles que sofrem.

A guerra não é necessariamente um evento isolado onde armas são disparadas ininterruptamente por meses. Ela pode ser silenciosa e rotineira. O nazismo (nacional socialismo) não acabou, apenas trocou de país. Hoje em dia a mídia nos "ajuda" a decodificar a violência contida no dia a dia, atualmente tudo é mais claro, mais exposto, porém, a maioria dos cidadãos insiste fechar os olhos, a maioria quer viver.

2 comentários:

Ani Cristina Bariquello disse...

Quanto valem meus ideais?
Até onde eu seria capaz de ir pelas coisas em que acredito?
Ao que eu me sujeitaria?

No decorrer da história pessoas sofreram, enlouqueceram e até morreram defendendo as causas em que acreditavam, porque elas realmente lutavam por uma causa, como eu sou um ser medíocre por não acreditar com tanta força assim em nada..., é isso que filmes como esse me fazem pensar.
Burguer, em vários momentos no decorrer do filme, manifestou indignação, por num mesmo campo de concentração estar em situação privilegiada com relação aos demais, em momento nenhum esqueceu que estava recluso e sujeito ao regime nazista. Muito embora estivesse bem, não esqueceu em momento algum a situação em que encontravam-se seus amigos, companheiros e sua família.
Ele foi preso porque distribuía panfletos contra o nazismo e em momento algum abandonou sua causa, daí a responsabilidade.
Como ele poderia ter atitudes que ajudariam aquele modelo absurdo prosperar, se iam de encontro a tudo em que ele acreditava?
Em meu juízo pessoal considerei Salomon egoísta, é natural nos seres humanos que os instinto de sobrevivência prevaleça, por ser “falsário”, presume-me que os conceitos morais dele eram deturpados, com relação aos demais. Ele foi preso por ser falsário, de qualquer forma, com relação a ele a questão de colaborar com o regime comunista fazendo algo que ele havia sido condenado por fazer era bem mais questão de hipocrisia do que ferir um princípio ético.
Raramente pessoas que sujeitam-se a questões degradantes mantém o seu ideal, seja por simples ameaça, cárcere ou em uma esfera mais radical,a tortura.
Eles eram torturados diariamente, sofriam o temor da morte diariamente, seja por espancamento, fuzilamento ou em câmeras de gás, trabalhos forçados, falta de higiene, agressões físicas, não tinham o menor conforto,má-alimentação, etc. É preciso ser muito forte, digno, corajoso e convicto para ter a atitude que Burguer teve. O que você faria?

Anônimo disse...

Hum, sobre a única coisa que realmente temos...difícil dizer. Pode parecer exagero ou idealista da minha parte, mas eu sou apenas eu, uma causa envolve muitas outras vidas (algumas de certa forma mais preciosas/úteis do que a minha para a humanidade) e se para ajudar essa causa e essa humanidade (embora nem sempre digna) sim, eu daria a minha vida por uma causa, talvez meus filhos colham as sementes que outros plantaram e que eu ajudei a regar. Mas temos que ponderar essa idéia, morrer por morrer não vale a pena, afinal de contas um vivo covarde (bem ou mau) faz muito mais que um corajoso morto. E se morreres em vão, que suas idéias e ideais fossem tão bons e tão fortes a ponto de se perpetuarem, e que continuem movendo pessoas como muitos bons que morremos por seus ideias e que hoje ainda movem pessoas e organizações. Reconhecimento é o mínimo que eu herói deseja, ser como uma lenda...(Ah, que utopico não!?)
Obs: Seria mais fácil se eu tivesse visto o filme antes. =/