quinta-feira, 31 de julho de 2008

A morte de um é tragédia. A morte de milhões é estatística.

Ouvi ontem uma notícia na TV sobre negros e gays, que cotidianamente são espancados em Florianópolis. Em contrapartida, é revoltante saber que a morte de uma garotinha que foi jogada de um prédio comove o país inteiro, tornando-se até assunto em sala de aula. O sensacionalismo transforma a morte de alguns em tragédia, enquanto desconsidera a de tantos outros. Numa palavra usada pelo comentarista da RBS, pude perceber o motivo por que não deveríamos nos preocupar com a violência na capital. Ele afirma que essas pessoas que sofrem violência são minoria. Como? Certamente ele não sai muito de casa, e não tem a mínima noção da diversidade sexual e étnica que constitui a sociedade atualmente. Hoje a notícia será esquecida, porque negro sofrendo maus tratos é tão habitual quanto ler um livro da quinta série sobre história do Brasil. A morte dos gays é justificável a partir da convicção de que “deus nosso senhor” criou o homem e a mulher para se reproduzirem. A banalização da violência é regra obrigatória para mantermos estampado esse sorriso no rosto todos os dias. A maioria das pessoas não consegue enxergar o discurso medíocre que aceita diariamente. Esse mesmo discurso transforma em estatística o sofrimento e a morte de daqueles que vivem num mundo moderno, globalizado, pós-punk, que querem ter suas idéias e atitudes respeitadas em 2008. Contudo, aparentemente, ainda estamos nas cavernas, na década de 50, ou pior, na Idade Média. Dane-se o trem-bala.

Um comentário:

Anônimo disse...

É a primeira vez que fico sabendo de uma notícia como esta na TV.
Aqui em Floripa um fato como este já é quase natural. Não me surpreendo por não ver isso com tanta frequência (nunca) na TV e ainda assim ficar sabendo diariamente de casos como este, não só aqui, mas em outras grandes cidades também. Aliás até diria que pelo fato de Floripa estar cada vez mais arco-íris, isso tem acontecido pouco mesmo (numa relação crime/quantidade de homossexuais).

Justifica?
Claro que não, continua sendo indignante.

"Porque TV só serve para te alienar, ao invés de informar - como deveria ser"

Não há necessidade de dizer que pra eles só importa a audiência e o "povão" AINDA é extremamente preconceituoso.
Rende muito mais expor a vida de uma menina de sei lá quantos anos, durante meses (porque aquela ladainha insuportável não durou apenas um ou dois dias) e crucificar a pessoa "sem coração" que cometeu o crime do que mostrar como as diferenças étnicas e sexuais estão sendo recebidas atualmente nas grandes e pequenas cidades.

(ainda faço o tipo - sem dó, nem piedade - que argumenta em alto e bom som quando ouve alguém "soltar" um preconceito de qualquer tipo em meio a uma conversa casual)


ponto.