quinta-feira, 27 de março de 2008

Vence na vida quem diz sim!

Encostou sua cabeça no travesseiro e fechou os olhos pra realidade como sempre fez quando seu coração apertava, sua garganta entupia e seus olhos ardiam. Naquela noite o mundo poderia ser bom de novo, naquela noite ele queria ter a capacidade de chorar por algo que já havia feito seus olhos secarem.

Pegou algumas roupas e colocou numa mala velha e saiu de casa correndo, sem olhar para trás ele correu mais do que podia, ou devia, não importa. Ofegante chegou ao seu destino e pediu uma passagem para o Rio de Janeiro. Notou a curiosidade no olhar que a moça lhe lançou por ver um rosto com lágrimas e sorriso que cantava: -- Quero uma passagem pro Rio de Janeiro.
Não demorou muito e já podia sentir um alivio no peito por ter chego àquela cidade que um dia lhe trouxe tanta felicidade e que quase o matou de saudade.

Pediu para o taxista levá-lo até a Lapa e ao chegar viu que estava tudo do jeitinho que ele lembrava não podendo assim ficar por menos de uma hora caminhando e lembrando de quando a tempos atrás dali mesmo ele ligou pra ela e disse que a sua cidade fazia muito calor. Não chorou.
Era quase três da tarde e ele tinha que ir ao instituto Bennett, no Flamengo, onde foi seu primeiro encontro com o diabo. Ficou parado no mesmo lugar e na mesma hora que tinha chego meses atrás. Ficou de pé na entrada do local e rezou, naquele dia um ateu rezou. E não foi atendido. Então fechou os olhos e lembrou de como tinha acontecido, sentiu ela se aproximar, abriu os olhos para contemplar a Arte de vermelho e cabelos da cor do sol que fazia brilhar a mais obscura alma. Abraçou o vento e desejou sentir aquela paz de outrora mas não foi a mesma coisa e frustrado ele segurou as lágrimas porque ainda tinha onde procurá-la.

Passou numa floricultura e comprou uma rosa vermelha, foi até o arpoador que no dia estava deserto como o seu coração. Havia pensado nesse momento por muito tempo, mas quando se aproximou do lugar onde os dois por tantas vezes tinham se beijado e feito juras de amor, ele se lembrou do Zaratustra, mas o evangelho dos fortes não lhe trouxe consolo. Acabou não resistindo e chorou compulsivamente, como uma criança, sim, agora ele era uma criança que já não controlava suas emoções ou tentava ser racional. Por muito tempo ficou ali feito estátua, com a rosa em mãos que após um tempo atirou ao mar lembrando da música que mais gostavam.

Naquela noite ele sabia onde ela ia, um palpite que se confirmou. Viu de longe, LINDA e nua, despida de lembranças, Amor ou remorso. Ela fez que não viu seu antigo garoto e apertou mais forte a mão daquele 'Homem', como ela gosta de chamar todos os caras mais velhos que ele.
Nosso herói quis que todo o mundo soubesse da sua dor ou que pelo menos ele tivesse coragem de chamá-la para conversar antes de ter a humildade de voltar à sua vidinha de poeta. Imaginou mil possibilidades de fazer um barraco e alguns jeitinhos de se matar sem sentir dor. Mas aquilo já era a própria morte, que horror!

Nada fez... Deu meia volta e saiu do bar, de fininho, direto pro aeroporto. Prometeu que nunca mais ia amar de novo, porque amar é sofrer, é solidão-fim-de-quem-ama.
Sentou na poltrona confortável, fechou os olhos e após alguns segundos ouviu: "vence na vida quem diz sim". Abriu os olhos assustados, olhou para o lado e viu Chico Buarque sorrindo. Ele como poeta que é deve ter enxergado a dor do garoto que na hora se lembrou da música:
Vence na vida quem diz sim.

Um comentário:

Ani Cristina Bariquello disse...

Minha opinião:

- Seu melhor texto.

Sabe quando é possível compartilhar cada sensação do personagem? Então.

Triste e ainda assim, lindo.