quarta-feira, 2 de abril de 2008

Liberalismo econômico cotidiano

Difícil acreditar que nossas relações com o outros em vez de relações afetivas acabaram tornando-se relações de consumo, porque, como ? Nessa sociedade que glorifica o darwinismo social onde o mais capaz, o mais forte, o mais 'preparado' vence, acabamos transportando isso do mundo do trabalho para o mundo da vida onde temos que estar sempre olhando fixamente para o horizonte dos padrões, nos moldando para conseguir status e aceitação entre aqueles que nos interessam. Veja as academias cada vez mais cheias, ou as clínicas de estética em cada esquina ou até mesmo a venda de revistas de 'saúde' que mostram como a medicina está intimamente ligada a nossa vida com as noções de normalidade, saúde e bem-estar. Foucault que o diga.

Não é difícil encontrar pessoas que querem sair dessa vida e arrumar um parceiro para co-existir em harmonia, cair fora dessa competição que tem como prémio sermos aquilo que não queremos ser. O que queremos ? Queremos companheiros que nos aceitem como somos e que tenham uma visão metafísica de nós mesmos, que nos vejam como ser e não como máquinas de hormônios e bolas de músculo.

Você liga a sua Televisão e ela te vende sonhos de ter, de poder, de conquistar com um simples ato de tirar a camisa, abrir a carteira ou desfilando num conversível. Até quando ? Isso vai durar pra sempre ? Ah! Os psicólogos terão muito trabalho quando essa geração compra-consome-goza chegar aos quarenta e descobrir o que o sonho fez com eles; Tornou-os reprodutores ideológicos com cérebro de ervilha!

Saímos por aí como se fossemos as compras, atrás de padrões que se assemelhem com o actor da novela das oito ou nosso ídolo mais querido, pois ainda chegará o dia do crepúsculo dos ídolos e se descobrirá que não existe nada além de valores em cima desses corpos, nada além de um creme especial de publicidade mal cheirosa.

Gustav Klimt - A filosofia ~ 1907

O quadro 'Filosofia' era uma síntese da visão de mundo e das buscas em matéria de estilo. As personagens à esquerda: o despertar da vida, a fertilidade, o término da vida. À direita: o globo, o mistério do mundo e uma personagem emergindo da luz, o conhecimento. A obra, indo ao encontro de idéias recebidas - por Nietzsche e Schopenhauer - demonstra o triunfo das trevas sobre a luz, do bem sobre o mal numa sociedade decadente e hipócrita que conservava valores puritanos num mundo onde o novo e o absurdo, ansiavam, por emergir. Os seres humanos parecem estar em transe, eles perderam o controle sobre seus atos. Aqui klimt contradiz as concepções científicas reinantes e por conseguinte também a universidade que lhe tinha encomendado este painel decorativo. Efetivamente esta obra foi uma fronta, com razão.

Um comentário:

Ani Cristina Bariquello disse...

Uma analogia ao que você mesmo disse:

Ando pelas ruas, em qualquer lugar, as pessoas que vejo, parecem todas iguais. É como se o ideal-necessário, realmente fosse essa mesmice, essa banalidade que é ser "normal".
Todos fogem do absurdo, é o coma da vanguarda. Sim, desesperador.