segunda-feira, 28 de abril de 2008

Sobre a culpa

"Não existe culpa, ninguém é um pecador em potencial, tampouco acredito em salvacionismos, se há felicidade nesse mundo, tem que nascer de nós mesmos, se para ter paz precisamos de guerra, nossa consciência é o grande inimigo."

É normal a sensação de frustração quando alguém de alguma forma fere a nossa dignidade fazendo-nos perder a motivação de sermos otimistas e sorrir. Normal mesmo é sempre atribuir as desgraças do cotidiano a alguém, porque aparentemente acreditamos que nunca erramos, representamos o que há de mais puro e justo na face da Terra. Parece-me um pensamento efetivamente comodista, diria até que essa maneira de viver é fundamental para que continuemos errando em nossas escolhas.

O que mais gostamos numa pessoa? Fácil, nós gostamos das nossas esperanças. Construímos um castelo ideal, símbolo de tudo o que desejamos, colocamos nele nossos amigos, amantes, familiares, e nem por um minuto estamos interessados em saber como o outro realmente é, pois isso não importa, o que importa é o que queremos que seja. Quando alguém nos decepciona, na verdade a culpa é toda nossa, sim, as nossas esperanças falharam, a outra pessoa não tem nada a ver com isso, é um problema pessoal, íntimo. Para ser sincero, sempre gostei de esperar o melhor de qualquer coisa, mesmo com ventos contrários, adorava a possibilidade daquilo que eu desejava ser a mais perfeita forma de prazer e alegria. Eu estava errado, cego das minhas vontades, despreparado para a realidade. O problema desse raciocínio é que dá a entender que somos "obrigados" a aguentar todo tipo de desaforo e violência, não, somos seres de conhecimento, conhecendo nós mesmos, compreendendo nossos atos temos direito de decisão sobre o destino. Não existe culpa, ninguém é um pecador em potencial, tampouco acredito em salvacionismo, se há felicidade neste mundo, tem que nascer de nós mesmos; Se para ter paz precisamos de guerra, nossa consciência é o grande inimigo. Nada precisa pagar pelos nossos problemas, eles são nossos. Na sorte é possível encontrar segurança e compaixão em pessoas especiais que não vão nos Amar por suas próprias idealizações, mas por sermos tremendamente nós mesmos!


Salvador Dalí - Girafa em Chamas (óleo sobre madeira ~1937)

Um comentário:

Ani Cristina Bariquello disse...

“Sempre censurara Tomas em pensamento por não gostar suficientemente dela. O seu amor, esse sim, estava acima de toda e qualquer suspeita, mas o dele nunca passara de uma simples condescendência. Apercebia-se agora de como tinha sido injusta: se realmente lhe tivesse um grande amor, teria ficado com ele no estrangeiro!

(...)

Fora-o sempre atraindo atrás de si, sempre para pô-lo à prova, sempre para se assegurar do seu amor, e fora-o atraindo sempre até ali, até ao estado em que o vê agora: grisalho e cansado, com os dedos meio mutilados, dedos que nunca mais poderão pegar num bisturi.

(...)

Santo Deus! Tinha sido mesmo necessário chegarem ali para ter a certeza de que ele a amava!

(...)

Enquanto dançavam, disse-lhe:

- Eu é que fui culpada de todo o mal que te aconteceu na vida, Tomas. Foi por minha causa que vieste para aqui. Fui eu que te fiz descer tão baixo que já não há sítio para onde irmos.

- Deixa-te de disparates, replicou Tomas. Em primeiro lugar, o que é que isso quer dizer, ‘tão baixo’?
- Se tivéssemos ficado em Zurique, podias continuar a operar os teus doentes.

(...)

- Tereza, disse Tomas, mas tu ainda não reparaste que eu sou feliz aqui.

De cá para lá, iam desenhando os passos da dança ao som do violino e do piano; Tereza tinha a cabeça pousada no seu ombro. Como no avião que os levava aos dois através da bruma. Sentia a mesma estranha felicidade, a mesma estranha tristeza. A tristeza queria dizer: estamos na última paragem. A felicidade queria dizer: estamos os dois juntos. A tristeza era a forma, e a felicidade era o conteúdo. A felicidade preenchia o espaço da tristeza”.
Sabe, eles foram até o fim de mãos dadas suportando o peso um do outro, parece triste, mas é lindo, porque na realidade eles sabiam que eram os únicos com quem poderiam ser eles mesmos, reciprocamente.