quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Aconteceu comigo

Tive o primeiro contato direto com esta expressão há alguns meses, quando comecei a ler ‘Staring At The Sun‘ do Irvin D. Yalom. Neste livro o autor argumenta das mais variadas formas as consequências do medo da morte. Suas referencias não diminuiram minhas angústias filosóficas, nem no capítulo dedicado a Epicuro.

Segundo Yalom, as experiencias reveladoras, que modificam radicalmente nosso modo de pensar e agir pode ocorrer, por exemplo, na descoberta de um câncer, uma doença terminal eu na perda de um ente querido. Fatos que nos instimulam a repensar as certezas.

O ser humano é capaz de superar as mais difíceis situações quando está em iminente perigo. Instinto de sobrevivência, vontade de poder, egoísmo, coragem, são instrumentos motivacionais que criamos para derrotar nossos inimigos interiores, assim como toda violência que nos cerca. Minha experiência reveladora, coincidência, ou não, teve relação com a morte.

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Depois da viagem a Porto Alegre, onde conheci alguns amigos biólogos da minha namorada - Ani -, percebi o quanto, diariamente, prejudico a vida de outros animais. Para ser sincero, enquanto debatíamos sobre sociedade, meio ambiente, cultura e tantos outros assuntos, eu estava muito fechado nos temas que me interessavam, portanto, o conhecimento que o Luiz e a Paula me passaram ficou guardado em meu inconsciente para mais tarde ser despertado.

Somente semanas depois fui capaz de colher os frutos daquelas pessoas, que hoje são muito importantes pra mim. Esse post é uma pequena homenagem ao bem que eles fizeram-me.

Dias atrás, fui preparar um sanduíche, sobre a torradeira haviam algumas formigas, e eu, na condição de animal racional, no topo da hierarquia, em nenhum momento considerei um erro esmaga-las com meu polegar. Matei-as. Pela primeira vez na minha vida senti que matei. Sentei-me e refleti sobre coisas que jamais haviam passado em minha cabeça.

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Lembrei do Luiz argumentando sobre a complexidade cultural de tribos de macacos, e de outros animais que jamais ocuparam minha mente. Por quê? Por que me considero melhor que eles? Por que a nossa espécie se esforça tanto para se distinguir dos outros animais? Por que tivemos que ir à lua e demarcar território? Por que a racionalidade atesta nossa intolerância e segregacionismo?

Não estou me tornando vegetariano ou pensando em entrar pra alguma ONG ambientalista. Apenas comecei a criticar algumas coisas que pra mim eram simplesmente memes, dogmas, assuntos inquestionáveis, incapazes de causar qualquer incômodo, simplesmente porque assim era mais fácil viver. Blindness.

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